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Gestão de patrimônio durante crises e guerras
- Leonardo Strambi, CFA
- 24 de out. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 28 de abr. de 2024
A história está repleta de guerras, conflitos e crises geopolíticas. Eventos passados podem ajudar a contextualizar como os eventos mais recentes em Israel podem afetar os mercados.
Observando crises geopolíticas anteriores, é possível observar que os mercados tendem a reagir de forma acentuada a curto prazo, mas se recuperam completamente em poucos meses ou anos.
Portfólios diversificados historicamente se recuperaram ainda mais rapidamente, especialmente para investidores que permaneceram investidos.
🌎 Gestão de patrimônio durante crises e guerras Os ataques terroristas recentemente realizados pelo Hamas custaram a vida de centenas de pessoas e feriu milhares, incluindo muitos civis que foram intencionalmente alvejados. Os ataques foram condenados pelos Estados Unidos, pelo Conselho de Segurança da ONU e pelas principais democracias do mundo. Israel respondeu ao ataque bombardeando mais de 1.000 alvos em Gaza, e houve relatos de combates na fronteira do Líbano, onde o Hezbollah apoiado pelo Irã lançou mísseis em direção a Israel. Conflitos e situações como essas têm impactos globais, não apenas na paz e na segurança, mas também na economia e nos mercados financeiros em todo o mundo. Ao estudar o passado, é possível perceber que os principais choques geopolíticos, mesmo aqueles que mudaram o curso da história da humanidade, raramente causaram uma recessão global ou deixaram uma marca duradoura nos mercados financeiros.
A tabela abaixo, retirada de estudo do UBS, demonstra bem esta tendência, ao compilar o desempenho do principal índice acionário dos Estados Unidos após choques geopolíticos.
📌 O paper 'The war puzzle: contradictory effects of international conflicts on stock markets', de pesquisadores do Swiss Finance Institute é uma excelente leitura sobre o tema.
A análise, feita pelos pesquisadores, dos conflitos militares dos EUA após a Segunda Guerra Mundial revelou que, nos casos em que houve uma fase prévia à guerra, com o aumento gradual na probabilidade de um conflito de maior escala, os preços das ações foram impactados negativamente antes, mas com o início efetivo da guerra, as ações se valorizaram. No entanto, nos casos em que uma guerra começou de surpresa, o início provoucou uma queda imediata nos preços das ações. Eles chamaram esse fenômeno de "war puzzle" e não sugeriram uma uma explicação clara para o motivo da tendência de valorização das ações quando a guerras irrompem após um prelúdio. O fato é que o mercado se move por narrativas e os agentes econômicos atuam com base em expectativas. Isso significa que o investidor médio, que tenta ajustar seu portfólio com base em notícias correntes, 'pulando de galho em galho' sem um planejamento adequado, corre o risco de, mais frequentemente do que o contrário, se encontrar atrasado em relação ao mercado. O paper retrata um ótimo exemplo de uma circunstância típica, onde provavelmente um número enorme de investidores busca movimentar seus portfólios e acaba perdendo dinheiro.
🎯 A importância do IPS
Nos últimos meses, com a escalada da tensão geopolítica global, muitos clientes vêm nos perguntando como posicionar seus portfólios. Nós defendemos que, se o investidor possui uma alocação estratégica inteligente e segue um IPS (Investment Policy Statement) bem elaborado e adequado à sua realidade e objetivos, ele não tem muito com o que se preocupar. Naturamente, é possível otimizar resultados com ajustes táticos marginais, dependendo do caso. O IPS é um documento essencial que define as diretrizes e ojetivos de investimento, levando em consideração os objetivos financeiros, o horizonte de investimento, a tolerância e a capacidade ao risco. Ele permite manter o foco nos objetivos financeiros de longo prazo, evitando decisões emocionais que possam afetar negativamente a saúde financeira da carteira. É um guia sólido que auxilia os investidores a manterem a disciplina e a aderirem às suas estratégias de investimento predefinidas.
Além deste ponto, que sem dúvidas é o principal, compartilhamos algumas estratégias inteligentes para lidar com riscos geopolíticos:
1. Permaneça investido. Embora os choques de mercado causados por guerras e crises geopolíticas tenham efeitos temporários no crescimento de longo prazo do mercado, os investidores muitas vezes têm a tendência de vender devido à incerteza imediata, na esperança de reinvestir no mercado após a crise passar. Vender é contraproducente, pois bloqueia perdas que, de outra forma, provavelmente seriam temporárias e prejudica sua capacidade de participar na próxima recuperação do mercado, que geralmente acontecem de forma muito rápida.
2. Separe preocupações de curto prazo de metas de longo prazo. Em tempos de incerteza, ter uma estratégia de Liquidez, destinada a atender às suas necessidades de gastos num horizonte de aproximadamente 3 anos, pode fornecer conforto e contexto. Investir sua estratégia de Liquidez em investimentos que estejam protegidos contra riscos geopolíticos e de mercado, pode ajudá-lo a reenquadrar a volatilidade e manter uma alocação saudável no restante do seu portfólio, onde eles terão tempo para se recuperar de choques de curto prazo antes de você precisar recorrer a eles para financiar gasto, permitindo que você mantenha seu portfólio principal investido e participe plenamente da recuperação dos mercados.
3. Concentre-se no que você pode controlar. Infelizmente, não temos controle sobre o comportamento dos mercados, mas podemos decidir como respondemos. Em momentos de maior instabilidade, é natural sentir uma forte vontade de fazer algo para buscar ganhar controle sobre a situação. Na área de finanças comportamentais, essa ansiedade é chamada de "action bias" e é uma característica muito comum para os investidores, com um alto potencial de causar prejuízos. Se mesmo assim você ainda se sentir inclinado a fazer uma grande mudança em sua estratégia ou plano de longo prazo, é provável que a sua alocação não esteja compatível com o seu perfil de risco. Neste caso, recomendamos que você atualize o seu IPS e, somente depois disso, estruture uma estratégia inteligente de adequação do portfólio à nova política.
Mais importante, discuta suas preocupações com seu consultor financeiro e dê a si mesmo algum tempo - pelo menos uma ou duas semanas - para eventualmente reconsiderar.
Uma excelente semana e bons negócios.
Economista graduado pela PUC-RJ, com MBA em Gestão de Investimentos pelo IAG/PUC-RJ, é candidato ao CFA Level 3 e possui as certificações CGA (Certificação de Gestores ANBIMA), CGE (Certificação de Gestores ANBIMA para fundos estruturados) e CNPI. Fundou a Austria Capital em 2017.
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